quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Não Há Nada Além D’Ele (Ein Od Milvado)

O Livro Shamati, Artigo nº 1
Ouvi em Parashat Yitro, 1, 6 de Fevereiro de 1944


Está escrito, “não há nada além D’Ele.” Isto significa que não há outra força no mundo que tenha a habilidade de fazer o que quer que seja contra Ele. E o que o homem vê, que há coisas no mundo que negam a Casa Superior, a razão é que esta é a Sua vontade.

E é considerada uma correcção, chamada “a esquerda rejeita e a direita atrai,” quer isto dizer que o que a esquerda rejeita é considerado correcção. Isto significa que há coisas no mundo, que, para começar, têm por objectivo desviar uma pessoa do caminho certo, e pelo qual ela é rejeitada da Santidade.

E o benefício das rejeições é que através delas a pessoa recebe uma necessidade e um desejo completo pelo Criador para que a ajude, uma vez que ela vê que de outra forma está perdida. Não só não faz progressos no seu trabalho, mas vê que retrocede, isto é, falta-lhe a força para observar a Torá e Mitzvot mesmo em Lo Lishma (não em Seu Nome). Que apenas ultrapassando genuinamente todos os obstáculos, acima da razão, pode ela observar a Torá e Mitzvot. Mas ela não tem sempre a força para ultrapassar acima da razão; pelo contrário, ela é forçada a desviar-se, Deus proíba, do caminho do Criador, mesmo em Lo Lishma.

E ela, que sempre sente que o estilhaçado é maior que o todo, ou seja, que há mais quedas que elevações, e não vê um fim para esses estados, e permanecerá para sempre fora da santidade, pois ela vê que é difícil para ela observar mesmo tão pouco quanto uma gota, a não ser ultrapassando acima da razão. Mas ela nem sempre é capaz de ultrapassar. E o que será do fim?

Então ela chega à decisão que ninguém a pode ajudar a não ser o Próprio Criador. Isto faz com que faça um pedido sentido para que o Criador abra os seus olhos e coração, e a traga verdadeiramente para perto da adesão eterna com Deus. Segue-se então, que todas as rejeições que tinha experimentado vieram do Criador.

Isto significa que não foi por estar em falta, que não teve a capacidade de ultrapassar. Em vez disso, para aquelas pessoas que querem realmente aproximar-se do Criador, e por isso não se conformam com pouco, isto é, permanecer como crianças insensíveis, é-lhe por isso dada ajuda de Cima, de forma que não lhe seja possível dizer que graças a Deus tenho a Torá e Mitzvot e boas acções, e que mais preciso?

E apenas se essa pessoa tem um desejo verdadeiro receberá ela ajuda de Cima. E é-lhe mostrada constantemente que está em falta no seu presente estado. Nomeadamente, são-lhe enviados pensamentos e opiniões, que são contra o trabalho. Com isto pretende-se que veja que não é um com o Senhor. E por muito que ultrapasse, vê sempre que está mais longe da santidade que os outros, que sentem que são um com o Criador.

Mas ela, por outro lado, tem sempre queixas e exigências, e não consegue justificar o comportamento do Criador, e como Ele se comporta em relação a ela. Isto fá-la sofrer. Porque é que não é ela um com o Criador? Por fim, chega a sentir que não faz parte da santidade ou que se pareça.

Embora que ocasionalmente receba um despertar de Cima, que momentaneamente a revive, mas pouco depois cai no lugar da baixeza. Contudo, é isto que faz com que ela venha a perceber que apenas Deus pode ajudá-la e trazê-la realmente para perto.

Um homem deve sempre tentar e apegar-se ao Criador; nomeadamente, que todos os seus pensamentos sejam sobre Ele. Isto é, que mesmo que esteja no pior estado, do qual não pode haver maior declínio, não deve deixar o Seu domínio, nomeadamente, que há outra autoridade que o impede de entrar na santidade, e pode trazer benefício ou sofrimento.

Isto é, não deve pensar que existe a força do Sitra Achra (Outro Lado), que não deixa uma pessoa fazer boas acções e seguir os caminhos de Deus. Em vez disso, tudo é feito pelo Criador.

O Baal Shem Tov disse que aquele que diz que há outra força no mundo, nomeadamente Klipot (cascas), essa pessoa está num estado de “servir outros deuses.” Não é necessariamente o pensamento de heresia que é a infracção, mas se ela pensa que existe outra autoridade e força para além do Criador, com isso ela está a cometer um pecado.

Para além disso, aquele que diz que o homem tem a sua própria autoridade, isto é, ele diz que ontem ele próprio não quis seguir os caminhos de Deus, isso também é considerado cometer o pecado da heresia. Quer isto dizer que ele não acredita que apenas o Criador é o governador do mundo.

Mas quando tenha cometido um pecado, deve certamente arrepender-se e sentir culpa por tê-lo cometido. Mas aqui também devemos colocar a dor e o remorso na ordem correcta: onde coloca ele a causa do pecado, pois esse é o ponto que deve ser arrependido.

Então deve ter remorso e dizer: “Eu cometi aquele pecado porque o Criador me arremessou da santidade a um local de imundice, para o lavatório, o local da sujidade.” Isto para dizer que que o Criador lhe deu o desejo e vontade de se divertir e respirar ar num local fétido.

(E pode dizer que está escrito em livros, que por vezes uma pessoa vem incarnada como porco. Devemos interpretar isso, como ele diz, que uma pessoa recebe um desejo e vontade de adquirir vida de coisas que já tinha determinado serem lixo, mas quer agora receber alimento delas).

Também, quando sente que agora está num estado de ascensão, e sente algum bom sabor no trabalho, não deve dizer: “Agora estou num estado em que percebo que vale a pena adorar o Criador.” Deve, em vez, saber que agora foi favorecido pelo Criador, então o Criador trouxe-o, para mais perto, e por essa razão ele agora sente bom sabor no trabalho. E deve ter cuidado de nunca deixar o domínio da Santidade, e dizer que existe outro que opera para além do Criador.

(Mas isto significa que o facto de ser favorecido pelo Criador, ou o oposto, não depende da própria pessoa, mas apenas do Criador. E o homem, com a sua mente externa, não consegue compreender porque agora o Senhor o favoreceu e posteriormente não.)

Da mesma forma, quando se arrepende que o Criador não o aproxima, deve também ser cuidadoso para que a preocupação não seja consigo próprio, no sentido em que ele está distante do Criador. Isto é porque assim ele se torna um receptor para seu próprio benefício, e aquele que recebe é separado. Ele deve antes estar arrependido do exílio da Shechina (Divindade), no sentido em que é ele que causa o pesar da Divindade.

Deve imaginar que é como se um pequeno órgão da pessoa está dorido. A dor é no entanto sentida em primeiro lugar na mente e no coração. O coração e a mente, que são o todo do homem. E certamente, a sensação de um único órgão não se assemelha à sensação do corpo inteiro da pessoa, onde maior parte da dor é sentida.

De forma semelhante é a dor que uma pessoa sente quando está afastada do Criador. Uma vez que o homem é apenas um único órgão da Sagrada Shechina, pois a Sagrada Shechina é a alma comum de Israel, assim, a sensação de um único órgão não se assemelha à sensação da dor em geral. Isto quer dizer que há pesar na Shechina quando os órgãos estão separados dela, e ela não pode cuidar de seus órgãos.

(E devemos dizer que é isto que os nossos sábios disseram: “Quando um homem se arrepende, o que diz a Shechina? ‘É mais leve que a minha cabeça.’”). Ao não relacionar o pesar da distância a si mesmo, é poupado de cair na armadilha do desejo de receber para si mesmo, que é considerado separação da santidade.

O mesmo se aplica quando sente alguma proximidade da santidade, quando ele sente alegria ao ter sido favorecido pelo Criador. Então, também, deve dizer que a sua alegria é principalmente porque agora há alegria Acima, dentro da Sagrada Shechina, ao ter sido capaz de trazer o seu órgão para perto dela, e não ter de enviar o seu órgão para longe.

E deriva alegria por ter sido recompensado por agradar à Shechina. Isto está de acordo com os cálculos acima que quando há alegria para a parte, é apenas uma parte da alegria do todo. Através destes cálculos ele perde a sua individualidade e evita ser apanhado pelo Sitra Achra, que é o desejo de receber para o seu próprio benefício.

No entanto, o desejo de receber é necessário, uma vez que isto é o todo do homem, uma vez que qualquer coisa que existe numa pessoa além do desejo de receber não pertence à criatura, mas é atribuída ao Criador, mas o desejo de receber prazer deve ser corrigido para ser com o intuito de dar.

Isto para dizer que, o prazer e a alegria, que o desejo de receber colhe, deve ser com a intenção de que há contentamento Acima quando as criaturas sentem prazer, pois este foi o propósito da criação – beneficiar as Suas criações. E isto é chamado de alegria da Shechina Acima.

Por esta razão, deve procurar conselho em como pode trazer contentamento Acima. E certamente, se recebe prazer, o contentamento será sentido Acima. Por isso, ele deseja estar sempre no palácio do Rei, e ter a habilidade de brincar com os tesouros do Rei. E isso certamente irá provocar contentamento Acima. Segue-se que todo o seu anseio deve ser apenas em pelo bem do Criador.


Por Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag, Baal HaSulam

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